A favela faz parte do processo de evolução, não é porque você veio de uma periferia que não pode seguir seus sonhos
Gustavo Henrique, maquiador de 23 anos de idade, mora no bairro da Cidade Tiradentes na zona leste de São Paulo. Hoje em dia trabalha com atendimento e faz faculdade de Estética e Cosmética com ênfase em Maquiagem Profissional e é Dançarino.
Desde infância já tinha uma paixão enorme pela arte e diz que dança desde pequenininho. Seus pais, falam que quando ele chegava nas festas ele sempre desenrolava na dança. A paixão aumentou mais, quando fez parte de um grupo de dança no ensino fundamental na escola E.M.E.F Prof.° Antonio D´avila, com a professora Márcia, quem ele fez questão de lembrar. Ela teve a idéia de dançarem uma coreografia dos anos 6O e desde então Gustavo nunca mais parou.
Fez ballet durante um mês, mas não conseguiu dar continuidade devido às questões financeiras por conta da locomoção e alimentação. No ano de 2012 fez curso de danças urbanas no bairro, no Centro Cultural para jovens, onde há diversas atividades como: dança - teatro - inglês - grafite e DJ, "Após ter feito esse curso, abriram diversas portas para mim no meio artístico, foi aí que descobri o grupo na qual faço parte hoje em dia, o Valnitta Anitta Cover", diz.
A paixão pela maquiagem começou a partir do momento em que começou a se apresentar em diversos locais e, ele observava a transformação que a maquiagem realizava. Então procurou por locais para fazer um curso completo, onde poderia aprender desde a maquiagem social até a maquiagem artística e descobriu que a Universidade Anhembi Morumbi oferece este curso, então pesquisou mais a fundo, fez o vestibular e conseguiu bolsa de 100%.
"Cada dia que passa me apaixono mais pela maquiagem, é onde também posso expressar meus sentimentos em forma de arte", comenta.
Antes de entrar na faculdade, Gustavo passou por uma fase muito difícil em um relacionamento abusivo. Viveu durante anos praticamente em cárcere privado, no qual não gosta de comentar, mas conseguiu se libertar e hoje mais do que ninguém é um exemplo para qualquer um que esteja vivendo algum tipo de relacionamento assim.
Gustavo diz que é algo bem difícil ser gay, negro e periférico, mas não impossível. "O preconceito hoje em dia existe sim e só não enxerga quem não quer, muitas vezes as pessoas te olham com desdém, achando que você não é capaz, mas a cada dia provo para mim mesmo que esses comentários racistas, preconceituosos não me abalam", afirma.
Diz que cada dia é um novo recomeço, pois gosta de mostrar para pessoas que pelo fato de ser negro, gay, da periferia e dançarino, corre atrás do seu processo de evolução, mostra que não é qualquer comentário que vai derrubá-lo e pelo contrário, cada comentário negativo, transforma em algo positivo para seu próprio crescimento.
PLANOS PARA O FUTURO
Daqui uns anos, o maquiador se vê com uma vida estável, onde possa ajudar a família e os amigos que estiveram ao seu lado nesse processo de evolução, "Me vejo levando arte para todos os cantos do Brasil e fora também. Tenho sonho de viajar pelo mundo, conhecendo outras culturas para que eu possa me aprofundar cada vez mais na minha arte, seja ela na dança e na maquiagem", diz.
Pretende frequentar casas de abrigo LGBT+, para levar um dia de beleza a essas pessoas que são menosprezadas pelos familiares e pela sociedade, e mostrar que elas são lindas de todas as formas, com ou sem maquiagem e poder escutar um pouco mais da história de cada um deles, para que futuramente possa realizar um projeto baseado na história de vida dessas pessoas.
O jovem tem planos de viajar fora do País também, para estudos e aprofundamento na arte da dança e da maquiagem e poder oferecer um pouco mais da cultura brasileira.
Gustavo diz que deve tudo a favela, pois é dela que nasceu, cresceu e vive até hoje, "A favela faz parte do processo de evolução, não é porque você veio de uma periferia que não pode seguir seus sonhos, às vezes é difícil por conta dos preconceitos, mas também não é impossível", finaliza.
Instagram: @ghus__makeup
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