O PerifaCon é uma iniciativa para quebrar as barreiras culturais, promovendo o acesso ao universo geek, historicamente negligenciado do povo periférico
O PerifaCon foi criado basicamente por alguns jovens que curtiam esse universo, mas que não conseguiam acessar as outras convenções nerds, pelo fato de serem inacessíveis no quesito financeiro.
A partir desse questionamento, os jovens levantaram alguns obstáculos, sendo um deles recursos financeiros, como a compra do ingresso em si, a mobilidade urbana para chegar nos eventos, porque estão sempre localizados no centro e mesmo se você consegue chegar, precisa se alimentar e quase sempre é caro.
Depois de toda essa problematização, pensaram em criar sua própria convenção e assim surgiu Perifacon, a Comic Con das favelas. O que é justamente a ideia de democratizar o acesso a cultura nerd, geek e pop para as pessoas que não podem pagar e levar a experiência de ComiCon para as periferias, fazendo um movimento contrário, não só as pessoas da periferia se deslocando até o centro, mas o centro se deslocando para periferia.
O PROCESSO DE CRIAÇÃO
Luize Tavares de 23 anos, estudante de relações públicas é uma das mentes idealizadoras e produtora da PerifaCon, conta como foi o processo de criação.
"Foi um processo longo e difícil. E a gente sempre diz que foi insalubre, porque não tínhamos nenhuma estrutura para fazer um evento daquele porte da ComicCon, não tínhamos lugar para produzir e trabalhar na programação", conta.
Inicialmente queriam fazer apenas só uma feira de quadrinhos algo bem pessoal, com quadrinistas conhecidos e amigos, então decidiram fazer uma benfeitoria na internet e pediram arrecadação de 2 mil reais.
Quando a ideia caiu na internet as pessoas começaram a tomar para si e demandavam ideias para o projeto, como sala de jogos, concursos de cosplay, RPG, mesas de debates etc. "E a gente do perifa como somos loucos, fomos abraçando tudo e montando, quando fomos ver, ocupamos todas as salas da Fábrica de Cultura do Capão Redondo", completa.
Quando começaram montar a programação, viram que o valor de 2 mil não daria para nada, então decidiram aumentar a meta para 5 mil, mas esse valor também não daria e efetivamente tiveram que fazer algumas escolhas porque o dinheiro não ia comportar. Apesar da Fábrica de Cultura do Capão Redondo ter uma baita estrutura, teriam gastos consideráveis e ainda apertando o orçamento para fazer caber tudo que queriam, nesse processo começaram a buscar patrocinadores e pessoas que queriam apoiar o evento.
Na primeira edição conseguiram um patrocinador, a Chiaroscuro Studios o que contribuiu para que não fechassem o evento no vermelho ou com alguma dívida. Então o evento aconteceu e foi tudo incrível.
"Mas foi muito problemático porque a gente não vivia do PerifaCon naquela época, cada um tinha seus empregos e suas faculdades, conhecendo a rotina de quem trabalha estuda, o único tempo que tínhamos para se reunir era das 23 horas a noite até às 5 horas da manhã, horário que todo mundo se saía das aulas e podíamos nos reunir na casa de alguém para pensar no evento", explica Luize.
Ficaram dias assim, trabalhando sem parar dia e noite, em dois meses, o evento exigiu muitos detalhes e muito da curadoria de cada um, esse foi o processo basicamente, mas já escolheram que não querem fazer desse jeito, porque pessoas ficaram doentes, pessoas surtaram, não dormiam e nem comiam, só fazíamos isso.
A IMPORTÂNCIA, A VISIBILIDADE E MARCA
O impacto para a periferia e sociedade é enorme, pois assim que ele surgiu foi uma loucura e é por isso que ele tem muito respaldo. Porque o PerifaCon entendeu que existia uma demanda que não estava sendo atendida por ninguém, então fizeram e deu certo.
O papel do PerifaCon é ser um intermediador para milhares de quadrinistas e artistas da periferia que simplesmente estão lá fazendo seus trabalhos e que não estão sendo vistos pelas grandes marcas, fazem esse papel de capitalizadores de juntar essas pessoas e marcas para mostrar que eles existem, ser essa ponte é o maior objetivo.
Fazem com que um quadrinista da periferia faça trabalhos grandes assim como um quadrinista que já é conhecido possa fazer um trabalho na periferia, hoje o PerifaCon não é mais um evento anual, se tornou uma prática recorrente de fazer essas pessoas se encontrem se juntem e tenham essa conexão, sejam vistas.
Pensaram no evento todo em como dar visibilidade para as pessoas que são da região, como por exemplo a praça de alimentação foi composta por de pessoas da periferia que vendem alimentos por lá, porém não querem romantizar a PerifaCon dizendo que só porque fazem um evento na periferia não querem marcas grandes, muito pelo contrário, querem sim marcas grandes, assim como elas estão em eventos grandes, podem estar no PerifaCon.
"Depois do evento que fomos ter a noção de fato do que aconteceu, conseguimos ver o tanto que ajudou na periferia, então desde lá fazemos muitas coisas paralelas, muitos eventos para tentar levar esses artistas mais e mais para o destaque", diz.
No ano passado realizaram o Encontro do Twitter de Artistas Negros, estão com um projeto a Editora Amino, onde fornecem aulas de desenho para artistas negros e terá lançamento do primeiro quadrinho em parceria com PerifaCon este ano, eles tem podcast, lojinha de produtos, fazem eventos como roda de conversa nos Sesc's.
E pela primeira vez na CCXP, ano passado o PerifaCon fechou uma grande parceria com a Netflix e levou 150 pessoas de diferentes quebradas para Spoiler Night, o maior rolezinho que a CCXP a presença do trio sintonia e show do Mc Jottapê.
Como Fábrica de Cultura do Capão Redondo não conseguiu comportar a quantidade de pessoas que tinham ali, tiveram que pausar as credenciais e ficaram mais ou menos uma hora esperando algumas pessoas saírem para outras entrarem e por esse motivo pensaram em dois dias de evento e um espaço maior até que encontraram o Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes e este ano o evento acontece nos dias 11 e 12 de abril, na expectativa desse evento querem que ele seja totalmente patrocinado.
Com princípio de não cobrar entrada, pois acreditam que o evento pode sim ser bom e pessoas sem condições possam participar, esse é o diferencial do PerifaCon.
"Aprendizado foi muito difícil, porque sofremos demais quem cresce na periferia não tem ideia de empreendedorismo e nós fizemos muitas coisas que desgastaram, valeu a pena, mas hoje aprendemos olhar mais para o outro e para nós mesmos", encerra Luize.
Luize também contou que eles têm o sonho de levar o PerifaCon para o Brasil, mas com o pé no chão e querem se estruturar para não serem apenas um evento.
Site: PerifaCon
Instagram: @perifacon
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