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  • Foto do escritorJanaíne Fernandes

A falta de atrações femininas nos festivais brasileiros

Atualizado: 16 de mar. de 2023

Pesquisa realizada pela UBC mostra disparidade entre homens e mulheres nas lines dos festivais brasileiros


Com o fracasso da segunda edição do REP Festival, evento que aconteceu nos dias 11 e 12 de fevereiro deste ano, muitos artistas aproveitaram o espaço para criticar a falta de respeito com artistas e público que estavam no local. Além de vários shows cancelados, muita chuva e lama, o evento que prometia ser "o maior festival de rap do país" não entregou praticamente nada e ainda deixou a galera revoltada pela falta de estrutura.


Na real, antes mesmo do festival acontecer, o público já estava desconfiado, principalmente após uma foto da equipe que organiza o evento circular nas redes sociais e as pessoas verem que, mesmo se tratando de um gênero originário da cultura preta, não havia pessoas negras na linha de frente da organização do REP Festival.

Imagem da equipe do REP Festival e da Filtr Brasil (Foto: Divulgação)

O fato é que neste mesmo evento, enquanto o rapper Borges se apresentava, ele citou suas insatisfações e anunciou que em breve Mainstreet iria lançar um festival que pudesse realmente representar a cultura hip hop, e este dia chegou! Na última terça-feira (14), a Mainstreet divulgou a line completa do seu festival e o que mais surpreendeu o público foi a falta de minas.


Com cerca de 25 atrações, apenas Azzy e Slipmami são as mulheres que aparece no line-up do evento, o que deixou muitas pessoas indignadas, em especial o público feminino. Apesar disto, essa situação já não é novidade e nos leva a uma grande reflexão sobre igualdade de gênero, pois além do discurso, a prática precisa ser executada, afinal, a desigualdade entre homens e mulheres nos festivais do Brasil ainda é grande.


Ano passado por exemplo, depois de quase três anos sem acontecer no Brasil, o Rock in Rio voltou com tudo e anunciou 250 atrações, além de incluir um dia completo com apenas atrações femininas. Nomeado como “Dia Delas”, o dia 11 de setembro contou com mulheres performando em 4 dos principais palcos: Mundo, Sunset, New Dance Order e Espaço Favela.


Apesar desta inserção, o percentual de mulheres que representam o festival ainda é muito baixo se comparado aos anos anteriores. Em 2022, apenas 20% das atrações do Rock in Rio foram mulheres. O número chama atenção para um fato importante no que se diz respeito a representatividade feminina, pois mesmo com um dia dedicado às mulheres, a participação das mesmas no evento, continua sendo menor.


Com base numa pesquisa realizada em 2020 pela União Brasileira de Compositores (UBC), apenas 17% do público de grandes festivais são mulheres. Para esta constatação, foram analisados 17 dos principais festivais nacionais, onde foi descoberto que em apenas quatro deles – ou 17,6% – tiveram mais de 50% de atrações femininas em 2019. Nesta pesquisa, os resultados foram divididos entre categorias: Elas Dominam, Igualdade (ou Quase) É Isso Aí e Clube do Bolinha.


Elas Dominam

Em 2019, o Coala Festival liderou o ranking com 73% do line-up feminino. O evento que normalmente acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo, teve 11 atrações, das quais oito eram artistas mulheres. O MIMO, também de São Paulo, contou com 60% de mulheres no palco, assim como no Popload, que 60% das atrações também eram do sexo feminino.

Igualdade (ou Quase) É Isso Aí

Lá em Marina da Glória, no Rio de Janeiro, o festival Queremos teve 50% do line-up feminino. O NAVE – ‘O Festival das Anavitória’, em São Paulo, reuniu sete artistas da nova geração da MPB e da música pop, totalizando 46%. Já o MECA Inhotim, em Minas Gerais, também levou 46% de artistas mulheres ao maior museu a céu aberto da América Latina. No CoMa (Convenção de Música e Arte), em Brasília (DF), as mulheres representaram 45% do total de atrações e por último, o Festival de Inverno de Garanhuns, que reuniu cerca de 43% de mulheres na line.

Clube do Bolinha

Ainda em 2019, o número de atrações femininas no Rock in Rio foi de 25%. O Lollapalooza escalou cerca de 8% entre os 11 shows principais. Já o festival João Rock fica com a liderança do grupo, com apenas 4% de mulheres como uma única cantora entre as 23 atrações.


No ano em questão, o VillaMix teve 18 edições, mas apenas seis eventos tiveram mulheres tocando. O Coolritiba contou com 19 atrações musicais e somou 26% de participantes mulheres. A 24ª edição do Planeta Atlântida, em Xangri-lá, litoral do Rio Grande do Sul, incluiu mais de 40 atrações nos dois dias de festival, mas totalizou apenas 10% de presença feminina.


Enquanto isso, o festival Abril Pro Rock, em Baile Perfumado, no Recife (PE), realizou 21 shows em três noites, mas isolou as mulheres ao segundo dia do evento, deixando com que os homens ocupassem os outros dois dias. Já o festival de Belém, Se Rasgum, contabilizou 31 shows nos três dias de festival e teve 12 atrações femininas, ou seja 39%. E o Sarará, evento que acontece em Belo Horizonte, também teve mais de 12 shows em dois palcos e apenas 17% das atrações eram mulheres.

Mesmo com este cenário, é fundamental afirmar que não faltam artistas mulheres talentosas na cena musical, e muito menos apelo para que essas mulheres sejam incluídas nas lines dos eventos e festivais brasileiros. O que realmente falta é uma curadoria cuidadosa que possa proporcionar a mesma visibilidade para apresentações femininas, assim como as masculinas.


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