Um projeto que se consolidou há 1 ano e 5 meses, realiza neste sábado(10) às 16h30, a sua terceira edição de desfile na Fábrica de Cultura do Jardim São Luís. O ThgVest é um coletivo de moda da região do Jardim São Luis, que tem como proposta construir um cenário mais aberto e receptivo na moda sustentável. "Eu costumo dizer que o ThgVest sempre existiu em todas as coisas que eu fazia, mas o projeto começou a tomar forma em 2014 quando eu comecei a fazer teatro e entrei em um curso de Designer de Aparência. A paixão pela moda e todas as suas vertentes surgiu muito rapidamente. Quando eu vi, o ThgVest já existia e eu não sabia explicar como", afirma Thiago Pires, 18 anos, idealizador do projeto.
Durante a produção do ThgVest, é realizado um debate com a equipe acerca de um tema em específico que será trabalhado no evento e no final de cada desfile já é possível saber qual vai ser o tema da próxima edição. "Não trabalhamos muitos critérios em relação aos temas, mas sempre deixamos claro que o nosso objetivo não é falar sobre determinados grupos e classes, queremos falar sobre o geral. Se eu vou falar sobre morte, eu quero mostrar todas as mortes, não as mortes de um grupo ou classe específica. A moda surge daí, a partir de pesquisas e referências, o conceito é simplesmente não ter conceito, não ter padrão, simplesmente ter", diz.
Apesar do trabalho ter sido consolidado há pouco tempo, a equipe de produção já está alcançando grandes lugares, construindo muitas coisas, e quebrando algumas barreiras. O objetivo do ThgVest é construir algo novo e mostrar que existem outras possibilidades, outros caminhos. "Existem varias marcas na quebrada, que estão com o mesmo corre de transformar e mudar o cenário sistemático, viemos pra somar", comenta Thiago.
Atualmente, a equipe é composta por quatro pessoas na produção: Thiago, Neto, Bia e Bernardino. Nos dias em que ocorrem os desfiles o número acaba aumentando, cerca de 10 pessoas atuam na produção do evento e auxiliam na maquiagem, troca de roupa, saída de modelos, som, iluminação e a equipe de ajuda. Modelando, o coletivo conta com a presença de 47 modelos. "Eu recebo muitas mensagens de várias pessoas querendo desfilar e se propondo pra somar e fazer o trampo acontecer, só que antes eu quero deixar marcado qual é o intuito do ThgVest no mercado. Nós começamos com exatamente 20 modelos, e tudo que construímos hoje, o processo que criamos, virou uma família e estamos dispostos a crescer esse número. Nosso objetivo está sendo ajudar as pessoas".
O trabalho com o ego é um assunto abordado internamente. O jovem de 18 anos comenta que o intuito principal do trabalho não é dar close, ou diminuir outras pessoas. "É complicado lidar com isso por conta da personalidade de cada um, mais são coisas que vamos moldando ao longo de cada processo criativo".
"Hoje eu posso afirmar que todos os modelos me inspiram, eu vejo suas necessidades e eles quebrando diversas barreiras na passarela, fico feliz por isso, eles fazem valer a pena", complementa Thiago.
Ao trabalhar com moda na quebrada, umas das maiores dificuldades relatadas é fazer com que as pessoas entendam o que realmente é a moda e o seu papel na sociedade. "Muitas pessoas do bairro quando descobrem que eu trabalho com moda ficam surpresas pelo fato de acharem que a moda é uma coisa intocável e que nunca vai estar no alcance deles, por esse motivo também faço esse trabalho, pra mostrar que todos devem ter direito e acesso a isso e, que a moda é algo simples não precisa de tanto luxo", diz.
A falta de apoio no começo do projeto também é citada, principalmente pela falta de visibilidade. "Ninguém sabia muito bem o que o ThgVest era ou queria propor no cenário da moda, e algumas portas ao invés de abrirem se fecharam. O primeiro ano foi muito intenso, mas eu percebi o quanto estava ajudando outras pessoas e o quanto transformou os modelos, e isso é muito importante. Hoje eu não penso mais em desistir, eu preciso que esse sonho não seja apagado".
A credibilidade que a marca vêm obtendo com os amigos e colegas é uma das coisas mais marcante para a equipe e gera admiração ao olhar a plateia e ver os conhecidos ali no mesmo ambiente. Thiago declara a importância dos vizinhos e colegas consumirem e apoiarem o projeto. "O ThgVest também surgiu delas, tem um pouco de todo mundo que eu conheço dentro da trajetória".
Uma das referências do idealizador do projeto é o seu próprio amigo, Maurício Oliveira, que é pintor, ator e performance, uma de suas maiores referências no mundo da arte. "E eu não posso esquecer da minha mãe. Desde muito nova ela costurava, depois que ela ficou doente abandonou a máquina de costura. Ela foi um dos meus principais impulsos pra continuar, posso citar o nome da milhares de artistas que eu tenho como referência, mas, minha mãe realmente fez eu acreditar em mim", relata.
Com o projeto, Thiago Pires, relata que obteve muitos aprendizados, não só com os modelos, mas principalmente com o público. "As vezes eu acho que tenho 100% de consciência do que estamos falando e eles vem e me mostram a verdade. Eu amo isso neles! Em todo o processo criativo o aprendizado é a parte mais importante da moda, o saber ouvir", comenta.
O ThgVest apresenta mais três edições de desfiles abertos ao público antes de encerrar o seu ciclo. Desde sua criação, foi abordado que o projeto teria apenas cinco desfiles e que dentro delas o coletivo iria mostrar para que veio. Dentre as edições, podemos citar a Outono, que vai acontecer dia 10 de Agosto na Fabrica de Cultura do Jardim São Luís, e serão abordados onde os temas: morte, luto e desaparecimento. Em Outubro terá a sua terceira edição nomeada por Desfile Caos. Março de 2020 recebe o último desfile que se chamará Uni. Nas edições futuras serão utilizadas algumas portas que foram abertas nos desfiles anteriores para concluir as etapas do ThgVest. Para quem está começando, o idealizador de ThgVest deixa seu conselho: "Durante um grande período quando eu iniciei a minha carreira como modelo, eu ouvia de várias agências coisas como: "você é muito baixo", "seu sorriso é muito feio", "você é muito magro/gordo". Eu senti que pra eles nunca estava bom e nos momentos de frustrações ao invés de desistir eu criei outras possibilidades, coloquei na minha cabeça que se eu não tive oportunidade como modelo no mundo da moda, então eu vou fazer com que todos os meus amigos tenham", diz. O coletivo espera deixar marcas para o futuro e que possa ter o reconhecimento da própria quebrada em que veio. "No meu bairro existem muitas crianças e quero mostrar pra elas que elas são capazes. Existe uma desvalorização gigantesca das crianças e elas são o futuro, elas são o poder! Passado dois anos eu quero que essas crianças estejam fazendo parte desse projeto, que elas estejam existindo de varias formas", finaliza Thiago Pires.
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