Há cinco anos em São Paulo, Barakhiah faz grandes trabalhos no mundo da moda
Quando falamos em "moda", apesar de muitos acharem que o termo está ligado apenas a uma questão estética de vestuário, nós podemos abrir várias pautas sobre o tema e levantar algumas questões.
No Brasil, é nÃtido o quanto o mercado da moda é racista e elitista, o que nos leva a entender que moda também é polÃtica, e pra muitos é um ato de resistência.
Em 2015, Eric Cantanhede Sá, mais conhecido como Barakhiah, migrou de São LuÃs do Maranhão para a zona leste de São Paulo, onde vive atualmente com a famÃlia. Sem esperanças no mundo da moda, Eric trabalhava em uma clÃnica onde ouvia constantemente de seus colegas que levava jeito para modelar, mas apesar de muitas vezes acreditar nessa vocação, a insegurança sempre o dominava. "O que mais vimos são agências totalmente fora do nosso padrão. Sempre me batia certa insegurança pela estética do meu sorriso", diz o modelo.
Em 2018, o sonho de se tornar modelo foi plantado em Barakhiah. Ao caminhar pela Avenida Paulista, o jovem chamou atenção de uma agenciadora, que viu a sua potencialidade para ingressar no mercado da moda e deu o contato de uma agência que ela estava abrindo (o que acabou não dando certo, pois a agência não chegou a abrir), fazendo com que o jovem ficasse pensativo a respeito de seu sonho.
O seu inÃcio na carreira de modelo só foi concretizado em 2019, quando uma amiga divulgou a abertura de uma nova agência coordenada por Allan Bozatti, a STIMP. "No começo eu não sabia muito bem como iria ser por causa da timidez no meu primeiro trabalho, mas tive todo um suporte do Allan , junto a Van nobre que é RP e tem um QG com um acervo no centro. Aprendi muito com eles e com outros amigos também", afirma Eric.
Depois de seu primeiro trabalho, o jovem fez seu primeiro desfile, e teve a oportunidade de sair na Vogue Brasil. Conforme o tempo, passou a receber mais trabalhos e parcerias, o que fez com que após dois meses de experiência no mercado da moda, Barakhiah se demitisse do outro emprego e passasse a fazer da moda a sua carreira principal."Eu coloquei na minha cabeça que eu estando ali constantemente poderia dar certo ao ponto das pessoas saberem o meu nome sem ao menos ver meu trabalho ou me conhecer. Eu não esperava esse retorno, mas também é um ajudando o outro, é uma troca".
O modelo começou a gerar seu próprio portfólio por meio de parcerias com fotógrafos, brechós, permutas, e isso fez com que ele estivesse em movimento, dando visibilidade para que trabalhos maiores de veiculação nacional e internacional pudessem acontecer.
Apesar de muitas coisas boas terem acontecido, Eric também relata as dificuldades da carreira. O jovem que transita entre a carreira de modelo independente e agenciado, cita que mesmo com todo auxÃlio de uma equipe, ser modelo agenciado tem muitas dificuldades e quando falamos em moda independente essas dificuldades só aumentam, entre elas a falta de reconhecimento, desvalorização do trabalho por estar no inÃcio da carreira, remuneração, exposição a determinadas situações desconfortáveis, entre muitas coisas. "E olha que eu nem vou entrar na questão do racismo", diz o modelo.
Eric também citou a má fé de pessoas que atuam neste mercado, descrevendo uma situação que acontece recorrentemente com muitos modelos e que já aconteceu com ele e com amigos próximos. "E quando tem há a possibilidade de um uma terceira pessoa fazer a ponte entre o modelo e o contratante, essa terceira pessoa ainda quer se aproveitar. Não falo de todos mas tem muitos que se aproveitam. Já aconteceu comigo e não só comigo mas também com meus amigos".
O REFLEXO
Quando citei sobre "ser referência", Eric disse que é muito gratificante quando ouve que alguém se espelha nele, não só no mercado da moda, mas pelo seu próprio jeito. "Poder inspirar alguém da mesma forma que eu me inspiro em outras pessoas, apesar de ser uma grande responsabilidade, eu não levo isso como um fardo. Virei referência por ser eu mesmo e não por fingir ser algo ou querer forçar alguma coisa. Pra mim, moda é gosto e expressão. Dá pra falar por ela, assim como ser julgado também". Barakhiah ainda complementa falando que seu trabalho também é sobre trazer autoestima para as pessoas e fazer com que elas acreditem no seus sonhos.
Dentre os seus aprendizados, o modelo comenta que não tem uma resposta óbvia para essa pergunta e que vivencia a moda é algo muito louco devido as vivências, contato com as pessoas, muita troca de experiências boas e ruins, é sentir. "O aprendizado é continuo, é sociologia: modo de agir, disciplina, porque uma coisa puxa a outra", diz.
Sobre as suas inspirações, Eric cita que a sua maior inspiração não está na moda, mas levando para este lado, seus amigos Breckboys, alguns dançarinos, estilistas, fotógrafos e produtores o inspiram, e que ter essa troca de vivências, essa identificação de vir das mesmas condições e ambientes parecidos deixam um ponto de questionamento o fazem buscar cada vez mais inspirações. "O engraçado é que também conheci o trabalho de alguns por meio da minha amiga Hannah Valentina, que em 2018 os divulgavam, e lá neste mesmo ano eu estava ouvindo os sons de alguns, vendo os trabalhos de outros, chegava a mostrar pra minha irmã e amigos meus, e hoje eu tenho contato com eles para trocar ideias e trabalhar juntos. No final, vi que rola essa admiração dos dos lados".
Pra quem tem o mesmo sonho e deseja entrar no mercado da moda, Eric afirma que acreditar que o convÃvio e a prática são quem lapida as pessoas é essencial e faz todo sentido pra quem vem das periferias. Procurar pessoas certas, saber como chegar e pesquisar são coisas que fazem a diferença. Sempre procurar entender como funcionam os processos, questionar e ter disciplina. Para encerrar, o modelo completa usando uma frase do rapper Mano Brown: "Não dá para ser um poeta e não estar perto dos autores".
Entre as suas projeções, abrir caminho para quem está chegando e se envolver em áreas que possa ajudar pessoas de alguma forma é um dos seus objetivos.
Conheça o seu trabalho:
Instagram: @Barakhiah
