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Foto do escritorJanaine Fernandes

Movimento de moda periférica traz empoderamento para Zona Sul de São Paulo

Atualizado: 23 de fev. de 2023

Desfiles são realizados nas Fábricas de Cultura espalhadas pela zona sul da capital paulista e buscam discutir problemas sociais e inquietações da periferia


No último dia 4 de maio, a Fábrica de Cultura do Jardim São Luís recebeu a quinta edição do desfile de moda periférica conhecido como LOYAL. Com recursos audiovisuais e performances ao vivo, o evento abordou questões do universo LGBTQ+ e falou sobre identidades e corpos marginalizados. “A ideia é uma experiência mais imersiva, com performance próximas e muito audiovisual. Tudo muito próximo. Pessoas reais, falando coisas reais, vivências reais, existências reais, falas reais”, conta Jaqueline Leal, de 22 anos, fundadora do LOYAL.


Comemorando dois anos de existência, o evento contou com a participação de duas novas marcas independentes, criadas por moradores da periferia da zona sul: “Indignação Queer”, assinada por Guxtrava, e “Pra tumultuar”, de Murillo Zyess.

Além disso, o material audiovisual exibido no desfile deste ano chegou a alcançar projeção internacional. “A Jaqueline deu total permissão para que eu usasse a minha criatividade na hora de produzir os conteúdos, e isso foi muito bom. Tivemos um resultado incrível, tanto que o vídeo foi exibido na Índia, o que foi muito importante para nós”, relata Isac Oliveira, de 21 anos, modelo e produtor audiovisual do evento.


Dos camarins à passarela


O penúltimo desfile teve como tema central o “triângulo da morte”. Na década de 1990, os bairros do Jardim São Luís, Jardim Ângela e Capão Redondo receberam esse título devido ao grande índice de homicídios que registravam diariamente.

Em sintonia com o princípio de representatividade, o LOYAL prioriza o “lugar de fala” em suas edições. Não basta saber modelar ou produzir: é necessário estar conectado ao movimento. Vai além da moda ou estética. Assim, o projeto criou vínculos e redes entre coletivos da região. “Você tem que estar condizente com projeto, se não vira hipocrisia, mas a gente vai tentando aprender cada vez mais”, expressa Iuri Fernandes, de 20 anos, produtor do LOYAL.


Impacto social

O projeto, que nasceu da ideia de criar um brechó, é considerado hoje parte de um estilo de vida pelos moradores do Capão Redondo e outros bairros periféricos de São Paulo. “O LOYAL é um movimento de moda periférica, que tem como objetivo empoderar as pessoas, mostrando que elas não só podem, como devem ser leais a si mesmas, em estilo e estética”, diz Jaque Loyal, como é conhecida pelos amigos a criadora da ideia.


A ideia inicial foi trabalhada no ano de 2016 e concretizou-se durante o primeiro desfile, realizado em abril de 2017. Mas tudo nasceu a partir de laços de amizade: a fundadora convidou alguns amigos com quem fazia teatro na época para ajudá-la na produção do que mais tarde se tornaria um conceito na região em que moram.


Os desfiles acontecem sempre nas Fábricas de Cultura, localizadas em regiões periféricas, incluindo Capão Redondo e Jardim São Luís, e todas as edições possuem uma proposta de conscientização. “São urgências e inquietações que vão aparecendo, e passamos a olhar para elas de um modo mais geral e coletivo, quando percebemos que muitas pessoas são atingidas por elas, nós decidimos: é isso”, relata Jaque, também estudante de Publicidade e Propaganda.


Por trabalhar com temáticas de relevância social, o LOYAL proporciona mudança de vida não só para seus espectadores, mas também para o grupo que produz e atua no evento. Em todas as edições, são realizados encontros em que a equipe prepara os modelos do ponto de vista físico e, principalmente, emocional. São feitas dinâmicas, onde todos os envolvidos podem se expressar em relação ao tema escolhido.


Modelos convidadas a desfilar afirmam que o conceito por trás do evento possui forte impacto em suas vidas. “Ele deu espaço para eu poder aprender. Eu já sabia que eu podia ser eu mesma, já sabia que eu tinha que ser fiel a mim, mas eu não sabia como, e o LOYAL me ensinou, as pessoas do LOYAL me ensinaram”, diz Maria Clara, de 21 anos.. “O que me motiva é saber que a gente tá fazendo a diferença de uma forma ou de outra. Qualquer pessoa que entra ali para assistir o desfile sai com outra mente. Isso é o que me motiva”, afirma Deborah França, de 21 anos.


Desafios marginais


Um dos maiores desafios que o projeto enfrenta é a falta de verba. Até a sétima edição, o LOYAL ocorreu de forma independente, sem nenhuma forma de apoio financeiro ou patrocínio. Jaqueline Leal já chegou a pensar algumas vezes em desistir. “Tudo é mais difícil nas minhas condições de existência: mulher, negra e favelada. Eu sou estudante de Publicidade e Propaganda, estou no último semestre, tenho um emprego fixo, tenho meus projetos e apoio outros projetos. Então é muita coisa e também não é só isso, tem a pressão social né? Tem a questão de ser do meu bolso as condições pro desfile acontecer. Verba é a maior dificuldade, mas nós damos um jeito e sempre acontece, porque no final, é sobre precisar acontecer”, diz.


Apesar das dificuldades, os organizadores acreditam no crescimento do projeto. Para eles, o LOYAL deve chegar a outras zonas periféricas e alcançar um número cada vez maior de pessoas que se sensibilizem com os temas discutidos.


Saiba mais sobre o projeto:

Vídeo produzido por Underground Filmes

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