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  • Foto do escritorJuliana Santana

Sendo força em meio ao caos, Taís Santana segue ornamentando coroas

Atualizado: 2 de out. de 2021


Taís Santana por Jeff Valério

Cria da Zona Leste de São Paulo, Taís Santana, de 25 anos, nasceu e cresceu em Guaianazes. Conectando-se com diversas histórias de garotas, sua mãe durante a infância foi responsável por pentear seu cabelo, e Taís teve uma infância trançada. Quem possui cabelo cacheado ou crespo provavelmente se lembra da sensação de ter o cabelo penteado pela mãe. Mesmo muitas mães não possuindo instruções de como tratar o cabelo cacheado/crespo, saímos daquela pequena sessão de puxa, pega, amarra, prende, lindas. Provavelmente com Taís não foi diferente.


Porém, novamente conectando-se com diversas histórias de garotas pretas, o ambiente escolar torna-se um lugar extremamente cruel para aquelas que não seguem um padrão estético esperado. Infelizmente, crianças podem ser cruéis e muitas vezes a culpa nem é delas, mas dos “exemplos” que elas possuem em casa. Tomada pela pressão e bullying recorrente, Taís decidiu se adaptar ao lugar por meios químicos que ardem, queimam e machucam, principalmente internamente.



Taís Santana - arquivo pessoal

Um dia específico de muito calor e sol ficou marcado para Taís. Indo pra escola, ela percebeu que o cabelo antes alinhado e baixo pela escova e chapinha, estava começando a cachear. Em uma atitude desesperada, ela foi ao banheiro e jogou água no cabelo, o intuito era baixar e controlar aquele cabelo, mas o efeito foi contrário, Taís reflete sobre isso – “Hoje eu olho pra esse momento o quanto o mundo dá voltas. O cabelo que lá na escola eu olhei e não me enxerguei, hoje eu tenho muito orgulho de carregar ” conta.


Após diversos episódios de cortes químicos, por volta de 2015/2016, Taís voltou a trançar o cabelo e passar pela transição, um processo nada fácil. A transição é um momento onde a paciência precisa estar lado a lado contigo, pois o cabelo começa a se regenerar pela raiz. Por fim, quem passa por ela relata que o processo é libertador. E nesse momento de liberdade, Taís também se encontrou, nas suas raízes – “Eu comecei a ter o entendimento da cultura preta, do que é ser negro, qual a simbologia de ser uma mulher preta no Brasil. Então, eu me aproximei do orgulho negro, de me entender negra. E a partir desse processo de aceitação, de transição, me reencontrei nas tranças, aí sim que eu comecei a experimentar muitos penteados” explica.


O até então hobby de trançar o cabelo foi crescendo, quando percebeu já estava trançando a família – “Era mais algo que eu gostava de fazer, de mexer com o cabelo, eu entendia como o autocuidado, um autoafeto, como cuidar de si, cuidar dos nossos”, contou. Formada em turismo com especialização em história, sua profissão foi altamente prejudicada pela pandemia, e em meio a todo esse caos, percebendo o talento no ato de trançar, nasce a vontade de profissionalizar, e ela foi afundo na simbologia e dos diversos “porquês” do ofício de ser trancista – “A gente não trança cabelos por estética, a gente traz de volta o conhecimento do nosso povo, a gente traz de volta a autoestima do nosso povo, é história, é um ofício muito ancestral”, explica.



Taís Santana - arquivo pessoal

Todos esses episódios, processos e vivências, trouxeram Taís para onde ela se encontra, na Olubayo - uma palavra em Iorubá que como ela mesma explica sintetiza tudo o que ela sente –

“Olubayo é uma palavra em Iorubá e significa “maior alegria” que é o que sintetiza o que eu sinto, o que as clientes sentem quando trançam seus cabelos. Elas chegam com uma feição, chegam cheias de problemas, chegam cheias de angústias e com a autoestima muitas vezes abalada. Então, ao final elas saem com uma outra aura, com uma outra energia, com uma outra expressão, de alegria, de felicidade, estão prontas para o mundo de novo”, explica Taís.

Para Taís foi importante enxergar que seu crespo não era só um cabelo ou sua autoestima, mas um ato político ou como ela descreve uma afronta – “Para mim nunca foi estética, nunca foi “Ah, eu vou assumir meu black porque é bonito, porque as blogueiras estão usando” jamais! Nunca passou pela minha cabeça com essa dinâmica, era muito mais já entender que era uma afronta”, conta. E é dessa forma que ela passa para suas clientes que muitas vezes chegam quietas, desestabilizadas e sem a autoestima. Taís segue conectando seus clientes às suas ancestralidades por meio das raízes capilares, como ela diz ‘de preto pra preto’, pelos seus. Sendo luta em meio aos caos, a trancista segue trançando cabelos afros e ornamentando coroas.


"Eu costumo produzir alguns conteúdos e também eu deixo muito explícito que o meu serviço é de preto pra preto. Eu não tranço pessoas brancas, não é meu objetivo pela questão da apropriação cultural. Então, eu tenho uma preocupação gigantesca em fazer com que a minha clientela entenda que o meu serviço é direcionado para elas. Porque é direcionado para elas? Aí é onde ocorre as trocas que são feitas pessoalmente no atendimento", conta Taís.

Taís Santana por Jeff Valério

Além de trancista, Taís é poeta marginal, militante e fundadora do Coletivo Negro Empoderafros que tem por objetivo o engajamento na luta contra o racismo estrutural. E mesmo com muitos avanços dentro da luta, Taís ainda acredita que existe muito o que percorrer - “Nosso povo ainda é distante da nossa história, não se aprende a nossa história na escola. Então, se não é a gente fazendo por nós mesmos, a informação não vai chegar e por isso que a gente ainda tem muitas e muitas mulheres e homens pretos em fase de transição”, finaliza.


Mas assim como diz música Ponta de Lança do Rincon Sapiência “...crespos estão se armando” e se depender da Taís, presos não irão ficar.


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