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A transformação gerada pelo acesso à arte e cultura

Atualizado: 23 de fev. de 2023

Projeto que mudou as quebradas levando esperança, diversidade e coletividade


Por Juliana Santana e Tainá Arruda

Fábrica de Cultura - Unidade do Capão

As Fábricas de Cultura são espaços com oportunidades de acesso gratuito a diversas atividades artísticas. Criadas com o objetivo de ampliar o conhecimento cultural por meio da interação com a comunidade, oferecem cursos e uma programação cultural diversificada.


A arte muda vidas, juntamente com a cultura, são pilares para o progresso de uma sociedade, hoje a galera que cerca a Fábrica de Cultura do Capão Redondo entende isso e celebra seu oitavo ano de existência com vivências que jamais cairão no esquecimento, memórias que se tornaram mais que especiais em um ano atípico como este de 2020. Mesmo com um ano diferente, não poderíamos deixar de contar um pouco destas histórias e vivências dentro da fábrica.


Levando esperança para as quebradas, o projeto “Fábricas de Cultura” chegou ao bairro do Capão Redondo em dezembro de 2012, sendo gerenciado pela Poiesis, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, pelo governo do Estado de São Paulo. Com o propósito de ampliar o conhecimento cultural por meio da interação com a comunidade, a fábrica conseguiu impactar não só moradores, mas todo o público que frequenta o local.



Sendo sinônimo de acolhimento e afeto, a fábrica deixou sua marca em cada pessoa que já passou por lá. Seu espaço com oportunidades de acesso gratuito a diversas atividades artísticas e culturais, tornou da arte um produto único, sendo uma forma de expressão livre para todos.


Ana Beatriz, 19, também conhecida como Lótus, conheceu a fábrica em um desfile da LOYAL que aconteceu na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, desde lá, ela não conseguiu mais se desvincular, ficou com marcas significativas. “A fábrica foi um lugar que eu consegui chegar e me sentir em casa. Ela chega com você e você aprende a ter liberdade para duas coisas: para você falar e para você ser. Liberdade de ser você lá dentro”, conta.


O fotógrafo Luciano Araújo, 44, encontrou na fábrica um abrigo. “Eu vejo a fábrica como um refúgio para o jovem, um refúgio até para as pessoas mais experientes, que acham que não têm mais sentido no que fazer, que se acham perdidas, é um local onde não existe o diferente e sim como cada um tem a sua individualidade. Isso é respeitado constantemente, em todos os momentos”, explica.


“Eu era uma pessoa muito fechada, hoje, depois da fábrica eu sou uma pessoa que fala. A fábrica me abriu um leque muito grande. Hoje eu gosto de fotos, gosto de conversar com pessoas e tenho mais facilidade, graças a fábrica”, conta Romulo Silva Santana, 16, que participa do Projeto Espetáculo da fábrica.



Jaciara de Araújo

Jaciara de Araújo Silva, 40, dançarina e pesquisadora de danças brasileiras diz que se não tivesse passado pela fábrica e pelas Casas de Cultura, não estaria como está hoje. "Eu aprendi muito sobre respeitar. Respeitar o próximo. Me ensinou também a amar, a saber o significado do que é o amor. Me ajudou bastante nas questões de preconceitos. Eu era uma pessoa preconceituosa, hoje não sou mais. Foram coisas que embutiram em mim, eu não nasci preconceituosa, mas a sociedade me fez ser. Então, a fábrica, a cultura e a arte, me fizeram renascer”, relata.


Larissa Machado falou que algumas vezes pensou em desistir, mas vendo os jovens unidos, em eventos organizados para fortalecer a comunidade, aguçou sua vontade em continuar: "Cada um ali tem uma luta, cada um ali tem um coletivo ou atua sozinho, então eles me ensinaram muito sobre resistência! Permanecer, lutar pelos sonhos”, explica.


O processo pessoal de algumas pessoas despertou a partir da vivência na fábrica, se imaginar sem este espaço é difícil para Ana Beatriz. “Me imaginar sem a fábrica, seria muito difícil, porque foi um lugar que agregou muito, não só no aprendizado, mas eu conheci muitas pessoas que me agregam também. Eu tenho certeza que se eu não tivesse a fábrica no meu processo, eu seria uma pessoa que ainda teria muito preconceito, eu seria muito retraída, a "Lotus" não existiria e ela sou eu”, acrescenta Ana Beatriz.


No âmbito profissional, a fábrica somou muito para diversas pessoas, como foi no caso do Dinho Marciano.

“Eu descobri que eu podia fazer a minha arte mesmo não tendo condições financeiras para arcar com meu sonho. Ela existe para somar a nossa carreira. O artista hoje não está mais completamente sozinho”, comenta.

Em concordância, a fábrica trouxe lições, aprendizados e muita gratidão. Um espaço necessário para a evolução de muitos por meio de cursos e uma programação cultural diversificada, transformando vidas pelo acesso à arte e à cultura.


Para Jaciara, a fábrica mostrou como a periferia é positiva. "Eu aprendi que a periferia é um lugar bom, pois a sociedade mostra que é o lado ruim. Já carregamos isso com a gente, por morar na periferia, e a fábrica me mostrou que a periferia não é um lugar ruim, não é o lado ruim, tem muita coisa boa. A arte cura, façam arte!”, complementa.


“A Fábrica mudou completamente a minha vida, mudou completamente a forma de como eu me relacionava com as pessoas, me fez lidar muito melhor com a minha ansiedade e com os meus problemas internos. O contato com arte foi algo que eu sempre quis, porém, achava um pouco distante e a fábrica surgiu no meu bairro, muito próximo da minha casa, mostrando que existiam estas possibilidades, que o meu sonho não era inalcançável”, relata Harlley de Melo Ferreira, rapper, compositor e integrante do Quebrada Queer.


Priscila Mastroroso Landival, psicóloga, articuladora cultural do POVES e street art, conta como são as pessoas que trabalham na fábrica. “Existem pessoas e uma gestão que trabalham com o afeto, com a escuta. Isso é muito importante, muito marcante na unidade do Capão”.



Bruna Santos no desfile da LOYAL

Bruna Santos, “A fábrica me empoderou bastante, eu, sendo um corpo travesti, drag queen e gorda. A fábrica me empoderou. Isso é acolhimento em todos os aspectos. Eu falo sendo uma travesti, eu nunca me imaginei sendo uma travesti e tendo acessos a lugares assim. Eu nunca imaginei que a minha drag poderia estar nesses lugares. Eu nunca imaginei que a Bruna, modelo do LOYAL, poderia estar nesse lugar, desfilando, livre para passar o dia inteiro lá, fazendo reunião, ensaiando, e esta é a palavra: ACOLHIMENTO!”, conclui.


Contudo a fábrica fez com que pessoas enxergassem além, abrindo horizontes, mostrando novas possibilidades, transformando ideias e principalmente no processo de coletividade, trabalhando preconceitos e tornando as pessoas mais tolerantes.

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