Dedicando seu trabalho as quebradas de Osasco, Sidnei Junior expõe sua realidade em personagens e projeto audiovisual
Representatividade seria a palavra-chave para descrever a arte de Sidnei Junior. Morador do Jd. Elvira, na cidade de Osasco, zona Oeste de São Paulo. O jovem de 24 anos, ilustrador e quadrinista, é formado em artes visuais. O talento com papel e lápis veio desde cedo, ao longo do seu processo fez cursos para aperfeiçoar o talento já existente.
As quebradas estão cheias de artistas talentosos que necessitam trabalhar o dobro para ganhar visibilidade. Esse universo da arte e cultura que na maioria das vezes é negado às periferias, faz com que esses artistas descubram coisas e referências em desvantagem comparado as outras pessoas, isso não foi diferente com o Sidnei.
Trabalhando atrás do seu alter ego chamado de “O Homem Saudade”, que surgiu em forma de resgate, um resgate de si mesmo. Ele explicou que conforme foi se entendendo como homem preto, percebeu que se desenhava como um garoto branco “Eu pintava a minha pele com o famigerado lápis que as pessoas costumam chamar de “cor de pele”, que na verdade é o rosa claro, fazia os cabelos lisos. E quando eu era moleque, eu não percebia essas nuances - da história que nos é negada, e que toda essa questão é sobre um grande projeto de apagamento e eu fui mais uma dessas crianças” explicou.
Hoje, ele usa todo o repertório de experiências profissionais e o aprendizado da faculdade em sua própria arte, que tem como tema principal a vivência periférica, e a inspiração surge das narrativas que já existem na quebrada - "Eu sempre quis saber como eu poderia expressar o lugar de onde eu venho, a periferia dentro do desenho e a pouco tempo eu me vi inspirado pelos meus semelhantes, pela molecada aqui da quebrada” conta. Em seu estilo próprio de desenho, atualmente ele usa a linguagem cartunista, presente especialmente em HQs.
'O Homem Saudade' é sobre a saudade de uma pessoa ou de uma narrativa que não existiu, um resgate do que ele não teve e está acontecendo agora.
Ele conta que durante a infância não possuía referências pretas, principalmente em desenhos animados, se auto representar como um garoto branco, revela a falta delas. Seus personagens chamam a atenção pela estética que carregam e mesmo não sendo seu próprio alter ego, ele se enxerga nelas. “Eu me vejo quando desenho meus personagens, de uma certa forma eu queria me ver e hoje eu consigo expressar um pouco de mim da maneira correta” diz.
QUEBRADAS DE OSASCO
Após ser demitido, Sidnei queria dar uma utilidade para a câmera, o gosto por documentários deu início ao projeto “Quebradas de Osasco”.
O projeto audiovisual, além de ser entretenimento e cultural, Sidnei o considera um projeto social, "Eu enxergo o Quebradas de Osasco como uma plataforma que traz os nossos para a cena. Então, esses minidocs vão falar sobre essas personalidades que existem nas diferentes periferias para falar sobre trajetória de vida, falar sobre história de trabalho, histórias de amor, os corres, para dar visibilidade, para mostrar que a gente existe” finalizou.
Com a chegada da pandemia e isolamento social, problemas com a logística dos vídeos fizeram o lançamento do projeto ser adiado durante um ano inteiro. Felizmente no início de 2021 o projeto foi lançado.
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